quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Cidadão Macrópolis

PARADOXOS E PARADIGMAS
Das Adversidades às Oportunidades
J. Jorge Peralta
“Conhece-te a ti mesmo
e dominarás o Universo”
Sócrates – Filósofo
“A Tetralogia assume a alteridade
como parte integrante da visão de mundo”.
I
DIVERGÊNCIAS E CONVERGÊNCIAS DA VIDA

1. O cidadão consciente, no mundo atual, é uma pessoa comum que vive de olhos abertos, antenado, atento ao que se passa em seu redor. Sabemos que a consciência teórica não é tudo; ela é feita de pensamento, de ideias, de experiências e de vivências.
É uma pessoa de visão plural que sabe viver e conviver com a diversidade, num mundo multipolar, em termos sócio-culturais, políticos, econômicos e comerciais. Uma pessoa que procura adotar valores humanísticos universais, em vez de se deixar levar por alguns frágeis equívocos atuais.
É uma pessoa que busca a articulação dos seus semelhantes e dos contrários, buscando os pontos de intersecção comuns. Buscando harmonias.
É uma pessoa que pugna pela soma de forças, onde é possível a convergência; luta pela unidade e nunca pela unicidade. Luta contra a degradação causada pela corrupção e por interesses e atitudes anti-sociais. Sabe que o semeador de cizânia semeia sementes desagregadoras e traiçoeiras nas melhores searas. Está sempre atento às manobras do inimigo, para se prevenir e não ser surpreendido. Segue o adágio: Antes prevenir do que remediar. Precisamos saber mudar alguns refrões da moda, ainda que seja penoso remar contra a corrente.
É uma pessoa que sabe que não há rosa sem espinhos; que sabe que “Deus ao mar o perigo e o abismo deu, mas nele espelhou o céu”, como observou Pessoa; sabe que, “se quisermos ver as borboletas, teremos de suportar algumas larvas”. (Exupery)
Neste ponto adotamos as bases da Filosofia Taoísta que nos demonstra que entre os mortais não há o bem nem o mal absoluto e então podemos sempre aprender algo de todos e não podemos menosprezar ninguém de boa vontade.

2. O cidadão consciente olha as forças antagônicas, dialeticamente, sem o ranço do maniqueísmo que divide a humanidade, e sabe que esta divisão é um grande desafio para os sábios.
Sabendo que os fatos e atitudes podem ser observados de diversos ângulos, fica atento para não deixar de considerar algum aspecto e não ser injusto e nem vítima de golpe traiçoeiro.
Moralmente sabe que ser conivente ou complacente com a corrupção ou com os violadores dos direitos alheios, torna-o cúmplice de atitudes que envergonham a sociedade e a humanidade.
Sabe que os valores éticos e morais não podem ser sacrificados a interesses imediatistas ou circunstanciais.
Sabe que a corrupção leva à degradação generalizada das instituições, minando a paz e o bem-estar. A corrupção e a ganância são o câncer letal das sociedades. Esta doença vai tomando dimensões de pandemia, ao se alastrar por toda a malha social, bafejada por pseudo-democratas: por lobos em pele e ovelhas. Há que lhe pôr um paradeiro, mostrando o outro lado. Há que distinguir: democratas de tecnocratas, de bufões, de trapalhões e de ditadores disfarçados.
Há um reforço mercadológico, em todos os níveis da sociedade, que revitaliza “estátuas” de barro e até personalidades sórdidas, com artificiais retoques dourados e faces rosadas e sorridentes é o fator fotoshop ou o botox pseudo-ético e de tom pseudo-social, criando tiranias, mascaradas de democracias, perpetuando-se no poder que não lhes pertence que os faz usurpadores.
Sabemos, com convicção, que mesmo em dias tristes ou na escuridão, podemos sentir brilhar a luz na nossa mente e no nosso coração. A cada nova aurora, o sol desfaz a noite escura. Dialeticamente o dia sucede a noite, como a noite sucede o dia.

3. O cidadão consciente está convicto de que prevenir as pessoas contra a corrupção e a desmoralização da sociedade não é moralismo vazio, mas obrigação de todo o cidadão responsável. As pessoas apenas não devem temer o patrulhamento dos exploradores da boa fé e da ignorância das pessoas.
O silêncio dos covardes também é responsável pela degradação da sociedade, pela injustiça, pela repressão e pela desconfiança generalizada no seio da sociedade contemporânea.
As pessoas conscientes não se deixam cooptar pelo novo fundamentalismo “politicamente correto”, discutido e arquitetado em bares da “Vila Madalena”, que, com esse ou outro nome, estão em todos os centros urbanos da moda, aqui e no exterior.
Impor silêncio aos inocentes é crime inafiançável... Silenciar pode ser uma armadilha sórdida. Calar nem sempre é compactuar!
II
O TRIUNFO DAS NULIDADES

4. Em nosso meio, a partir do início do século XXI, a corrupção e o golpe baixo foram institucionalizados. Mas a prática começou a se agravar muito antes.
Enfim, já no tempo dos início da República, Rui Barbosa assustado com os rumos de amoralidade que infestavam a sociedade, fez uma dolorosa e constrangida observação, mais como uma advertência:
De tanto ver triunfar as nulidades,
de tanto ver prosperar a desonra,
de tanto ver crescer a injustiça,
de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus,
o homem chega a desanimar-se da virtude,
a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto...”
Nos últimos anos, esta degradação assumiu proporções assustadoras. Tomou conta de todas as instâncias do poder. Para evitar reação das pessoas responsáveis que ainda prezam a ética, o caráter e o bem público, arma-se uma tremenda e assustadora máquina de intimidação e chantagem. Há uma “quase máfia”, agindo sem limites de ética ou de honra, para dominar a sociedade, em diversos países e em toda a malha social. Usam a seu favor instrumentos, antes criados para preservar o interesse de toda a sociedade. São poucos controlando muitos.
Somos uma sociedade cercada por uns poucos, matreiros e sagazes bem organizados em “redes” (locais, nacionais e até internacionais?!) por toda a parte, acuando as pessoas pensantes que acreditam no bem. Canalhas sempre os tereis convosco, poderia ter dito o Mestre. Desde quando é assim, eu não sei, mas a ousadia dessa gente feroz, hoje em dia, às vezes vai além da imaginação, com uma ousadia sem limites de ética ou de atrocidades.
Arma-se uma sórdida guerra suja, entre “facções” de que ninguém sabe o desfecho.
“Quando se muda uma lei, muitas mais podem se mudar”.
É sabido que este é um beco degradante da sociedade que não pode prosperar sem grandes prejuízos.
É preciso alguém intervir para evitar uma catástrofe que se anuncia, nas vias empoeiradas, que a chuva deixará enlameadas... A sociedade precisa de paz e solidariedade, com justiça e mútua cooperação e não mútua exploração ameaçadora de “aves de rapina”.
É preciso contrapor esta situação, com uma resistência construtiva, sem negatividade. Até porque todos sabemos que “não há mal que não se acabe e nem bem que sempre dure”, como avisa a sabedoria popular.
Só uma sociedade consciente é capaz de agir e reagir tetralogicamente, isto é, saber pensar nos outros e não apenas em si mesmo; ser altruísta e se agigantar.
Em nosso tempo vicejam muitos pigmeus de caráter e falsários; mas também não nos faltam gigantes de ética e moral, atuantes, talvez anônimos, que garantem a vitalidade na humanidade.

5. Alguns talvez proclamem, alto e bom som, talvez irados, que isto são ideias conservadoras, ultrapassadas, passadistas. Que hoje o que vale é a ideologia dos progressistas. Pois eu lhes direi: Qualquer ideia de progresso baseado no triunfo das nulidades, na desonra, na injustiça, na infâmia, na rapinagem, na ignorância do povo ludibriado, na vergonha das pessoas audaciosas e competentes, e no silêncio dos inocentes ameaçados e humilhados, só leva à solidão, à desilusão e ao nada. Mas eles não passarão!
Nestes tempos, em que a verdade é ocultada por “canhões” que ameaçam quem ousar levantar o véu negro que a esconde aos olhos das nações e a substitui por mentiras camufladas, a humanidade terá dificuldade para mostrar o próprio rosto envergonhado.
Precisamos trocar o jogo da mentira traiçoeira pelo jogo da honra benfazeja. Só este leva a humanidade a um porto seguro. Quando os detentores do poder forem proibidos de maquiar o próprio rosto e de ações, e o próprio caráter e a ética, então o povo saberá quem elege e o estado da nação, sem máscaras e sem retoques.
Refletimos, como observador e pensador, com posicionamento suprapartidário, com os olhos e os ouvidos bem atentos, buscando olhar todos os múltiplos ângulos dos fatos e atitudes que nos cercam. Posiciono-me num ponto de encontro comum a todas as pessoas de boa vontade...

6. O cidadão consciente sabe conviver numa sociedade de pessoas sábias, honestas, solidárias e empreendedoras que vivem, lado a lado, com pessoas sórdidas, mentirosas, traiçoeiras, demagogos, corruptores repugnantes. Sabe distinguir uns dos outros. Sabe que essa convivência é condição da vida na sociedade, devendo a pessoa saber se acautelar sem ser cooptada. Sabe que as pessoas podem mudar.
Pessoas sábias, honestas, empreendedoras?! Sim, elas existem. São a maioria da nação embora amordaçada, em alguns meios de expressão...
O cidadão consciente sabe que vive na cidade real e não na ideal. Os momentos ou fatos que nos revelam o caos e os desarranjos da sociedade devem ser ocasião privilegiada em que melhor nos preparamos para procurar os remédios mais adequados à esperança da coletividade, superando os males que incomodam e desagregam a população.
Precisamos saber superar a mesquinhez e as misérias da sociedade, com muita grandeza e esperança.
A pessoa consciente é aquela que procura ter uma vida clara, ainda que o mundo seja opaco. Até porque as pessoas que causam e cultivam esta sociedade corrupta e perdulária, sempre negarão a existência de tais desarranjos. Como é aí que tiram vantagens, isso que, para a coletividade, é um mal lastimável e deplorável, para eles é “um bem”.
Enfim, é o caso de lembrarmos um oportuno adágio popular;
O pior cego é o que tem bons olhos e não quer ver”.
A frase clássica mil vezes repetida:
“Eu não sei de nada”; “eu não sabia”; “eu não vi nada”; “isso é invencionice”; “isso não é comigo...”
Artesanato-  Moçambique
O modelo que também aqui se aplica é o dos quatro macaquinhos: não vejo, não ouço, não falo e não faço...

7. Há uma conhecida categoria da sociedade que provoca o caos e o sofrimento para poder denunciá-lo e se apresentar como “salvador” de pau-oco, ou advogado de causas perdidas.
São os adeptos do “quanto pior melhor”...
São os semeadores da discórdia; os semeadores da cizânia. Estes, visando levar vantagens de tudo, principalmente das misérias humanas, satanizam pessoas honestas ou instituições, para enxovalhar-lhes a honra, desacreditá-los e jogar a massa contra os seus melhores defensores. Essa tática é clássica na história humana. Cuide-se quem puder...

III
POR UM HUMANISMO MULTIDIMENSIONAL

8. As pessoas que lutam pelo bem-estar social, com respeito e dignidade, muitas vezes não conseguem se defender de certas armadilhas bem arquitetadas, propagadas aos quatro ventos, por incrível força do sistema de informação dos formadores de opinião, semeadores do caos...
As pessoas defensoras do bem, às vezes revelam lastimável despreparo e amadorismo, no embate com as forças perniciosas.
As forças desagregadoras da sociedade, geralmente fazem o seu trabalho com persistência, provocando efeitos devastadores na sociedade, por falta de coragem de dar-lhes a resposta de que a sociedade precisa para esclarecer-se e reagir.
As catástrofes que abalam muitas sociedades, pelo mundo afora, só se propagam, ou pela violência, ou pela omissão de quem sabe a força desagregadora de certos princípios, às vezes passados como benefícios à sociedade, quando são reais malefícios. É preciso tirar a máscara.
A complacência, das pessoas esclarecidas, permite que a mediocridade se propague com fama de grandeza.
Muitas vezes a mediocridade é imposta por intimidação, em nome do deplorável e medíocre princípio do “politicamente correto”, que impede as pessoas de pensar e de falar. Trata-se de repressão ignóbil, porém mascarada
Deixam assim o campo livre para a propagação de devastadoras e intimidantes conspirações, degeneradoras da justiça e da solidariedade humana.

9. O cúmulo da degradação é o fato de que alguns valores essenciais à boa convivência humana são considerados valores superados e descartados, tais como: a honra, a dignidade, a verdade, a justiça, a fraternidade,... e muitos mais. Precisamos formular um humanismo multidimensional.
É bem sabido que a maior riqueza das pessoas, como das nações, são seus valores morais. No entanto, são esses valores que, por toda a parte, vão sendo descartados, em favor de interesses deletérios, que vão solapando a dignidade humana, a liberdade e a justiça. Os novos valores vão sendo suplantados pela força do poder econômico despótico mais sórdido e destruidor do que uma guerra civil. As pessoas vão sendo objeto dos interesses de poucos.
Uma “terceira” guerra mundial há muito vai se alastrando por muitos países, camuflada de “local”. Já fez muito mais vítimas do que a segunda guerra mundial. Milhares de pessoas são assassinadas fisicamente e muitas mais moralmente, em nossas cidades, pelo mundo afora, diariamente, em tempos de “paz”. Que paz?!
Lutar pelo bem-comum é dever de todos, para construir um país grande e próspero, respeitando o direito de cada um.
No entanto, a inversão de valores, que testemunhamos em nosso tempo, vai implantando tiranias, garantidas por uma espécie de terrorismo de estado, que vai consolidando como moda, pelo mundo afora. Instaura-se um autoritarismo vazio, golpista e interesseiro, mascarado de bem-comum...
Os que têm por missão a defesa da sociedade, por vezes invertem os papéis, atemorizando-a, em benefício próprio e de poucos.
Assim agem os regimes pseudo-democráticos, como se fosse possível democracia e como se transgressão a direitos básicos do cidadão fossem condições normais, sem razões internas que o justifiquem, em função do bem-comum.

10. O conceito e a prática da justiça e da injustiça, em muitas circunstâncias tem valores cruzados ou invertidos: a vítima sai tratada como culpada e o culpado como vítima. O inocente como bandido e o bandido como inocente.
O defensor do bem-comum como algoz e o algoz como defensor do bem-comum.
Os que cometem atos anti-sociais são exaltados e os defensores do bem comum são, por vezes, humilhados. A história está repleta de casos deste gênero.
Perdeu-se o conceito da alteridade em benefício do individualismo mais soez e sórdido.
Assim, muitas vezes, em pequenos, médios e grandes (caros) processos, quem não souber se defender, ou o advogado se descuidar e perder os prazos, talvez em golpe combinado, (intencional?!), o que se chama de “justiça” muda de conceito: a vítima é duplamente humilhada. Sabemos que, em nome da justiça, que tem por missão preservar os direitos de cada um, se faz exatamente o contrário, sem que o humilhado e injustiçado tenha como se justificar socialmente. Afinal, a “justiça” goza de “credibilidade”, inquestionável (?!). Sem se saber separar o joio do trigo, não é possível fazer afirmações justas...
Muitas vezes, a “justiça” depende de um “bom” advogado e não do direito inquestionável. A “justiça” nem sempre é cega.
É o que se chama abuso do poder e manipulação das brechas legais, ou de interpretação... em benefício de alguns...
E ainda declaram, com cara deslavada: “Quem pode mais chora menos”. Ou: “quem paga manda”.

11. Lutar contra essa tragédia anunciada é dever das pessoas mais preparadas e conscientes.
Esta luta, com a bandeira da Macrópolis, é sim, uma grande utopia autorrealizável, mas não uma miopia moral, histórica, sociológica ou política; até porque a verdadeira luta, por uma sociedade mais justa, só é viável, em pessoas de olhos e ouvidos bem atentos ao bem comum, sem subjugar ninguém, o que é direito da pessoa.
O sadio, entusiasta e lúdico-naturalista movimento dos Escoteiros ou algo equivalente, precisaria retornar à nossa sociedade, para pôr os adolescentes em contato com a natureza, numa convivência sadia e com princípios éticos bem formulados e testados, num processo lúdico...
O espírito do Escotismo formou muitas gerações de pessoas atentas à vida, com princípios sólidos.
Numa sociedade essencialmente e naturalmente plural, sempre precisamos estar dispostos a negociar, pelo bem-comum.
Na sociedade civil, a negociação é inevitável, por um bem maior. É a arte do possível. Entre o pior e o melhor, existe o meio termo do possível.

12. No nosso mundo há muitas crenças, algumas antagônicas, mas todas respeitáveis, em nome da diversidade.
Há também os descrentes e os agnósticos. Todos precisam buscar o denominador comum que os reúne numa mesma humanidade e num mesmo espaço. Questões de fé podem ser úteis para reunir pessoas, mas não podem ser utilizadas para dividir a sociedade e prejudicar a vida.
Cristãos, judeus, budistas, islâmicos, shintoístas e todos os demais precisam saber se sentar à mesma mesa, para discutir uma pauta que a todos reúna e não separe. A única condição é a lealdade...
Discórdias e concórdias, convergências e divergências, forças centrífugas e centrípetas, fazem parte do desenrolar do processo vital da convivência humana.

IV
CONSTRUTIVIDADE DO CIDADÃO

13. No entanto, o cidadão consciente é aquele que sabe que “não há mal que não se acabe, nem bem que sempre dure”. É então realista. É uma pessoa atenta à construção de um futuro melhor, a partir do agora. Cultiva a esperança.
O cidadão consciente sabe olhar, com otimismo, o futuro da humanidade e da sociedade em que vive.
Mesmo nos momentos mais difíceis, sabe que é possível fazer algo para melhorá-la, através da reflexão e de atitudes transformadoras.
Problemas à espera de solução sempre os houve e sempre haverá. A questão é outra. Hoje as pessoas têm mais capacidade de reagir e de cooperar. As pessoas são mais proativas e menos omissas.
As pessoas têm uma capacidade imensa de reagir, diante das adversidades, das inconsistências e das divergências. Para muitos a adversidade gera novas oportunidades.
O saber sofrer é a semente de novo amanhecer.
As pessoas “felizes”, a quem nada falta, às vezes sofrem de precária imaginação, disse Fernando Pessoa. A dor como o frio deixa mais fértil a natureza.
Sempre foi assim, através dos tempos. Os humanos precisam de desafios para buscar soluções, em novos caminhos.
Davi surgiu como um grande líder carismático, quando surgiu Golias às portas de Israel. Sem Golias, Davi seria sempre o último dos muitos filhos de um pai cuidadoso.
O nosso mundo está pleno de casos paradigmáticos, em que a pessoa fez da adversidade o trampolim, para abrir novos caminhos.
Deus não fez um mundo sem problemas, mas deu aos humanos a competência para buscar soluções; deu aos humanos missões transformadoras onde podem comprovar as suas competências e seu poder de atuação e criatividade. Deixou-nos um mundo em construção para que cada um possa fazer a sua parte e assim, se sinta útil à humanidade. É que cada pessoa nasce com uma missão própria e intransferível...
14. As pessoas sabem que se souberem reagir na adversidade, com coragem, persistência e dedicação, o amanhã lhes reservará boas surpresas.
As pessoas sabem que, na vida, nada é fácil para ninguém, mas que a dedicação e a busca de novos conhecimentos lhes abrirá grandes oportunidades e novas perspectivas.
Que ninguém esqueça que o criador da APLE – Computadores foi um menino abandonado e teve de vencer inesperadas dificuldades e traições, até chegar ao topo social, por sua competência, coragem e dedicação; por seus méritos.
Exemplos como este, de pessoas que sabem superar as adversidades, encontrâmo-los aos milhares, em nosso meio. Mas hoje as pessoas são empurradas para a rapinagem e contravenção, em vez de aprenderem a reagir e vencer com ética, mérito e honra e portanto, com orgulho sadio e tonificante.
Em vez de cultivarem a coragem e a honra, cultivam a malvadeza e a traição, tentando levar vantagem. O que colhem é vento, e quem semeia ventos colhe tempestades.
Há muitos parasitas, circunstancialmente,
“postos em sossego,
num sonho d’alma ledo e cego,
que a fortuna não pode deixar durar muito...” (Camões)
Há que considerar ainda o poema “Desconcerto do mundo” de Camões:
“Os bons vi sempre passar
No mundo graves tormentos;
E, para mais me espantar,
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
O bem tão mal ordenado,
Fui mau, mas fui castigado.
Assim que, só para mim,
Anda o mundo concertado”.


15. A pessoa consciente e otimista bem sabe que é capaz de ir muito além de suas limitações; que deve ser sempre mais desafiante de si mesmo e mais exigente, na qualidade de sua atuação e de suas escolhas; sabe que sempre pode fazer mais por seu mundo e que não pode fazer nada que possa prejudicar outras pessoas; sabe que a vida não é fácil para ninguém.
A pessoa consciente não compete com os outros, mas consigo mesmo: procura hoje saber mais e agir melhor do que ontem e amanhã melhor do que hoje. E pode ajudar os outros a também se superarem, a irem além de seus limites. A pessoa conscientes sabe que crescer é crescer junto. Ser é ser com alguém...
A pessoa consciente é aquela que tem compromisso com a vida atual e com o futuro; com a humanidade. Sabe subordinar os interesses pessoais aos interesses coletivos. Põe seu ideal muito à frente do possível. Sabe que a sua dedicação e sua competência pode melhorar a vida no seu bairro, na sua cidade e em toda a humanidade.
Os parasitas não podem ser tolerados. Mas devem ter oportunidade de se superarem.
Não é possível compactuar com os tiranos, mas talvez precisemos saber conviver com eles.
Mas sabe também que as conquistas que precisa almejar são tanto no campo de empreendedorismo empresarial, como na qualidade de vida das pessoas e sua auto-realização pessoal. Ele bem sabe que o ser humano não é uma máquina, que apenas produz, mas uma pessoa que tem família e pensa, faz, ama, sente, vive, convive, sonha e coopera. Mas, sem produtividade, não há honestidade e nem prosperidade. Cada um faça a sua parte.
A pessoa consciente sabe que nem só de pão vivem os humanos, mas que, sem pão, a vida não pode ir muito longe. Só prezar e cultivar os valores superiores da humanidade, em todas as suas dimensões, garante o bem-estar e a prosperidade duradoura.
V
FOCO NAS FORÇAS AGREGADORAS
16. A Macrópolis é a cidade que queremos; Megalópolis é a cidade que temos. Para nova realidade, novos paradigmas. Este é um paradigma utópico, criado como uma plataforma de criatividade cívica.
A criatividade e o sonho são qualidades e atitudes próprias dos humanos, superando os tecnocratas e deixando para trás os que põem as finanças acima dos valores humanos coletivos.
Esta é a base da Macrópolis. E esta é um protótipo ou uma maquete do que pode se pode transformar na nova cidade de pessoas proativas, solidárias e conscientes.
A Macrópolis é um projeto de uma cidade que sabe respeitar as pessoas e a natureza: os vegetais, os animais, o solo, o subsolo, as águas e o ar: todos convivendo em harmonia geral. Uma sociedade em que tudo e todos se relacionem, em mútua afirmação.

17. A Macrópolis é mais do que um conceito auspicioso, mais do que um nome agradável aos ouvidos, à mente, ao sentimento e à vida que quer sempre melhorar.
A Macrópolis significa uma intenção, tendência e esforço para implantar melhorias constantes e oportunas na vida das pessoas, na vida da cidade.
Macrópolis é presente, é passado e é futuro, a uma só vez, porque a vida tem raiz, como as pessoas. Ao viver a nossa vida, precisamos pensar nas condições de vida que legamos à posteridade, sem esse egoísmo predador que vai contaminando tudo e muitos...
A Macrópolis nunca terá resposta para todas as perguntas, nem solução para todas as questões, mas nunca terá medo de perguntar ou de problematizar, buscando razões para esclarecer a consciência e abrir caminhos. Perguntar ajuda a pensar. As perguntas mais eficazes são as que fazemos a nós mesmos, a partir dos princípios que nos inspiram.
São as perguntas e os problemas que põem a Macrópolis em ação, tendo em mira o bem-comum, com a justiça que cada um merece.
Justiça é dar a cada um o que precisa, nas proporções dos próprios merecimentos, sem golpes, sem falcatruas, sem parasitas e sem paternalismos humilhantes.
Justiça é oferecer o anzol e ensinar a pescar. Dar “esmola” a quem pode trabalhar é humilhar.

18. A Macrópolis é uma cidade de gente que faz e vive, com consciência, e que sabe operar as máquinas, colocando-as a serviço de uma vida melhor.
Uma cidade onde pessoas cultivam o bom humor e a alegria de viver e conviver; onde a pessoa trabalha para melhorar a sociedade e deixar um legado moral e, se possível, material para os seus. Que lhes deixe, ao menos boa educação, bons princípios e o exemplo de dedicação e ousadia.
Este é o cidadão da Macrópolis que sabe articular a vida nas duas cidades.
O cidadão Macrópolis não se propõe como Salvador do Mundo, nem de nada. Apenas se propõe revitalizar as forças positivas que as pessoas portam dentro de si mesmas. Não combate as forças negativas e desagregadoras, nem combate nada; apenas reforça as forças positivas, criadoras e agregadoras, numa espécie de maiêutica socrática. As soluções estão dentro das pessoas que são capazes de sentir os problemas.
As pessoas que efetivamente lutam por um mundo melhor, em todas as suas dimensões, precisam ter força, tino, uma perspectiva muito clara e ampla, e muita habilidade para persuadir os outros de que lutam por objetivos comuns universais, com base em interesses efetivamente comuns, num universo onde todos somos solidários, queiramos ou não. Nosso planeta é nossa casa comum, ou nossa nau comum.

19. O modelo de argumentação, de reflexão e de enfoque da realidade da “Macrópolis” baseia-se nos princípios da Tetralogia Analítica, que assenta sobre quatro pilares: sentir, pensar, agir e interagir ou sentimento, pensamento, ação e interatividade.
Na Macrópolis não polemizamos, não nos afrontamos, mas sabemos propor novas ideias e nova apreensão da realidade que nos cerca. Contrapomos propostas, com propostas; princípios, com princípios; argumentos, com argumentos. Não dizemos: “não concordo” mas dizemos: “eu penso por outro caminho...” e digo qual caminhos e as razões do mesmo. Esta atitude inspira-se no taoísmo, onde, em tudo, há algum bem e algo precário.
Acreditamos que, no mundo dos mortais não há mal e nem bem em dimensões absolutas.
Então não podemos demonizar ninguém.
Dizemos que estas são as quatro linhas básicas ou os quatro pilares de pensamento e de análise da reflexão filosófica sobre o nosso mundo. Cada uma das quatro linhas de trabalho vai se subdividindo em outras, por ser um processo dinâmico de análise.
O quarto pilar é o que tem de novo e original, na Tetralogia, dentro da GLOBISSOFIA: a alteridade, o interagir com outro que gera a solidariedade. A Tetralogia assume a alteridade como parte integrante da visão de mundo.
(20/08/2010)
Leia: Dar é Humilhar (clique)

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